“O paradoxo curioso é que quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo”
Esta frase foi dita por Carl Rogers, um psicólogo americano que viveu entre 1902 e 1987 e que foi indicado ao prêmio Nobel da Paz. Além das várias contribuições para a Psicologia esta é uma das frases mais verdadeiras sobre aceitação. Ao contrário do que ouvimos muitas vezes, aceitar a si mesmo é em si o melhor caminho para a mudança. Nós aprendemos que precisamos negar nossa natureza e travar uma batalha com os pensamentos e sentimentos que não queremos em nós. Mas é aí que nos enganamos. É um esforço perdido brigar com pensamentos e sentimentos, pois não os controlamos. Eles simplesmente aparecem, e é essa tentativa de controle que faz com eles se tornem recorrentes e muitas vezes atrapalhem nossas vidas.
Já ouvi muitas vezes de meus pacientes, “mas se eu aceitar isso eu vou continuar assim”, e este é exatamente o paradoxo: aceitar NÃO é se conformar. O que ensinamos em psicoterapia é aceitar aquilo que não controlamos para mudar aquilo que está sob nosso controle. Quando aceitamos determinados pensamentos e sentimentos, ou seja, quando olhamos com compaixão para eles, mesmo aqueles que aprendemos a julgar como negativos, poderemos entrar em contato com eles, e daí surge a possibilidade de mudança.
Está certo que aceitar não é uma tarefa fácil. “Como fazer isso” também é umas das perguntas que mais ouvimos no consultório.
Existe uma metáfora que nos faz compreender melhor a aceitação. Vamos supor que nossas memórias, sentimentos, pensamentos ou outros conteúdos mentais, sejam como visitas em nossa casa. Algumas são bem agradáveis e fáceis receber de braços abertos. Já outras, são visitas daquelas que você não gostaria de encontrar, visitas bem chatas; elas falam mal de você e de outras pessoas e não medem as palavras para dizer coisas que machucam. O que fazer com visitas assim? Se você não abrir a porta quando elas aparecerem, elas vão ficar batendo exaustivamente e isso não as impedirá de falarem alto todas aquelas coisas que você não quer ouvir. E, se você parar para gritar com elas “vão embora” ou “para de falar”, vai perder seu tempo e sua energia nisso, sem muito sucesso. O que fazer com elas então? Abra a porta e deixe-as entrar, deixe elas falarem tudo que quiserem, mas você não precisa “dar bola” para nada. Pode até responder com uns “ahãm, uhum” mas não tome como verdades absolutas e nem precisa se torturar com o que elas dizem, são apenas visitas. Escute-as, mas você não precisa debater com elas, muito menos usar todo seu poder de argumentação. Enquanto elas falam, continue fazendo suas tarefas, não deixe de viver por causa delas. Desta maneira, não importa o conteúdo que elas trouxerem, isso não precisa atrapalhar sua vida
ISSO É ACEITAÇÃO E É DESTA MESMA MANEIRA QUE PODEMOS LIDAR COM NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS, PRINCIPALMENTE AQUELES QUE INCOMODAM.
Não é fácil lidar com tudo isso, sabemos bem! Na psicoterapia temos a oportunidade de nos conhecer e aprender a gerenciar todos esses desafios pessoais. Cada um vai ter um “visitante” que incomoda mais, sabendo lidar com ele, você tem a chance de viver uma vida mais tranquila e prazerosa e ainda abre espaço para empreender sua energia com seus visitantes mais agradáveis, aqueles que tornam a vida mais leve.
Como disse Rogers, aceitar é a melhor maneira de mudar nossas vidas, permitindo que elas tomem a direção que desejamos.